Deitado no leito penso, relembro-me do dia em que te conheci, pele ebúrnea, sorriso contagiante, trato afável, de olhar vivo e inteligente… apaixonei-me de imediato! Bela história de amor… agora acamado neste cárcere, impotente para cuidar de mim, sondas para comer, sondas e mais sondas. Entras no quarto e sorris, eu já não consigo falar, já não consigo expressar o quanto gosto de ti.
A enfermeira pede licença e dá-me mais morfina, as dores acalmam… mas pouco. Não é tanto o corpo que me dói, é saber que ficou tanto por fazer, tanto por dizer… o já não conseguir acariciar-te, nem provar o doce e discreto sabor do batom de morango que tu sempre colocas.
Sinto que o final está próximo, sinto que a bela história de amor não vai ter um final feliz, pois a vida real é bem mais áspera… o cancro manhoso como só uma pessoa má sabe ser, esconde-se, camufla-se, foge, arquitecta mais um ataque, desgraçado e maldito sejas. Despedes-te desejando veres-me amanhã, mas já cá não vou estar, tenho cada vez mais dificuldade em respirar, em manter os olhos abertos, os sons esvanecem-se, a morte aproxima-se com passos cadenciados, sinto calafrios no corpo, fecho os olhos e imagino que estás deitada ao meu lado e tento balbuciar as palavras - não chores!
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1 comentário:
Olá. Sou uma estudante de enfermagem e estou a desenvolver um trabalho intitulado " relação de interajuda e interpessoal em doentes oncológicos". Gostaria de trocar impressões com familiares ou mesmo doentes oncológicos. Questões simples com vista a desenvolver uma maior humanização de cuidados de enfermagem. Contactem-me através do email "enfermagem.em.oncologia@gmail.com"
Eu também já estive internada com um tumor na 3ª costela, felizmente benigno e também já participei em vários questionários. é para bem de todos, acreditem. Obrigado pela compreensão. beijinho, Fabiana
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