“Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos, não o conseguiria. Mas o vento, que nós não vemos, atormenta-a e verga-a para o lado que quer. É por mãos invisíveis que somos vergados e atormentados da pior maneira.” (Nietzsche, Assim falava Zaratustra).
Comportamento para-suicída, que faço eu? Destruição consciente, desejo consumir-me como um fósforo no angustiante cinzeiro?!
Corrida infernal e ilusória para algo que não vejo, para um caminho para o qual não sei o atalho… junto apenas o essencial. Caneta, papel, um livro e uma muda de roupa e é claro o meu lenço.
Coloco a mochila às costas, dou o primeiro passo, hesito… olho para trás e vejo-te, os teus olhos quentes não enganam, não queres que vá. Prego o olhar no chão, nesse espelho da vida… não, não posso pedir-te tanto, já te pedi demais… tenho que faze-lo sozinho.
Egoísmo muitos lhe chamar-lhe-ão, vontade chamar-lhe-ei eu… os passos vagarosos iniciam a marcha como uma velha locomotiva a carvão, mas depois de colocada em movimento, não parará por nada, nem por ninguém…
O vento frio endurece-me a determinação e as pedras fortalecem-me o desejo. O que faço eu? Não sei! Ou melhor, não sei o que quero, mas sei o que não quero! Não quero um cinzeiro, não quero ficar, não quero a inércia, não quero a multidão, não quero manter-me, não quero parar, não quero arrepender-me de me ter arrependido.
O caminho agreste agrada-me, pois é bem mais fácil do que aquele que faço todos os dias. Ao saltar um ramo, tropeço, a boca fica-me a saber a terra, o sangue escorre e sinto o sabor… é sinal de que estou vivo… levanto-me e com um sorriso trocista grito aos ouvidos da vida “ não consegues fazer melhor que isto, até me dás dó!”
Continuo com um passo cadenciado, primeiro o direito e depois o esquerdo, não tem nada que enganar… parece fácil não é… mas caminhar de uma forma vertical não é para todos, a vida vai-nos colocando fardos, testando-nos, moldando-nos e tentando vergar-nos, até ao ponto em que só conseguimos ver o nosso próprio umbigo, o horizonte deixa de existir e ficamos limitados a um pequeno orifício, podia ser o cu, mas não, é o umbigo.
Por isso parti, parti porque não quero mirar o meu umbigo, prefiro contemplar os incertos campos do desconhecido. O talvez, o podia ter sido, o isso é que era, não me cativam! Quero correr para a mudança, quero aquilo de que tantos fogem e muitos têm medo, quero a felicidade!
Um som entediante faz-se ouvir, abro os olhos, são horas de me levantar… e partir!